PUTIN ASSASSINOU NAVALNY

A morte de Alexei Navalny, principal opositor político de Vladimir Putin está gerar uma onda de manifestações junto das representações diplomáticas da Rússia em vários países entre membros da sociedade civil internacional que acusam o líder russo de tudo fazer para perpetuar um regime de “ditadura e corrupção” no país.

Por Geraldo José Letras

O principal opositor de Vladimir Putin foi declarado morto nesta sexta-feira, 16 de Fevereiro, pela direcção do estabelecimento prisional no Ártico, onde cumpria pena de prisão desde Dezembro de 2023, mas sem tornar conhecida a causa da morte. Apenas referindo a uma vaga doença que o atacou já depois de ter sido detido.

De acordo com a Agência de Informação da Rússia (RIA), Alexei Navalny “ter-se-á sentido mal durante um passeio no exterior da prisão, tendo sido assistido por meios médicos”.

Alexei Navalny que sempre lutou contra o que considerava “um regime de ditadura e corrupção”, referindo-se ao governo de Vladimir Putin, morreu aos 47 anos.

Vozes contestatárias que se manifestam em todo o mundo junto das representações diplomáticas da Rússia denunciam que , “houve várias tentativas de assassinato contra Navalny, a última das quais com ‘novichok’, um veneno muito em voga em terras da Federação Russa, um veneno já apontado também como causador da morte de alguns proeminentes políticos muito críticos do actual patrão do Kremlin, o sr. Putin”.

“Mas o que verdadeiramente aconteceu, aquilo que factualmente provocou a morte de Alexei Navalny, o homem que obrigou Putin a mandar os seus lacaios fazerem fraudes nas eleições, para que não fosse ele hoje o ocupante das salas douradas do Kremlin, isso toda a gente tem suspeitas e teorias, mas ninguém sabe”, alegam os manifestantes.

Alguns médicos alemães que se juntaram as manifestações em frente à Embaixada da Rússia na capital, Berlim, avançaram que “após a tentativa de assassinato com o referido novichok, Navalny decidiu regressar à sua pátria, sabendo que seria detido assim que pusesse um pé na Rússia, Navalny também sabia sem qualquer hipótese de erro que estava a cometer suicídio”.

“Um suicídio muito, muito ‘sui generis’, pois foi feito de modo a funcionar em câmara lenta, como se uma bala tivesse que, como o nosso planeta, dar meia dúzia de voltas ao Sol para, enfim, poder penetrar o alvo: eis o impossível suicídio slow motion”.

Entre os cartazes dos manifestantes liam-se frases como “morreu o sonhador, mas não o sonho de uma Rússia livre da ditadura e corrupção num continente de países que defendem a democracia”.

“O ‘bófia’, o ex-coronel do ex-KGB, não perdoa nem esquece e, por isso, Navalny voltou apenas para morrer em casa”, dizem.

Semelhanças não são coincidências

Sob o regime autoritário (democrático, na definição MPLA) de Vladimir Putin, grupos democráticos e de direitos humanos são sistematicamente visados. Milhares de manifestantes foram presos no início de 2021 por participarem de várias manifestações em apoio a Alexey Navalny.

Na sua habitual conferência de imprensa anual, o Presidente russo justificou o aumento de opositores presos com a necessidade de conter a influência estrangeira e “desnazificar” o país e arredores.

O Presidente russo negou (tal como faz o MPLA em Angola) a existência de repressão na Rússia, defendendo que as prisões de opositores, que aumentaram significativamente em 2021, não se destinam a amordaçar os detractores, mas sim a conter a influência estrangeira.

“Lembro o que os nossos adversários dizem há séculos: ‘A Rússia não pode ser derrotada, só pode ser destruída por dentro’”, afirmou Vladimir Putin, sublinhando que foi esse raciocínio que provocou a queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), há pouco mais do que 30 anos.

Ao longo de 2021, a imprensa, organizações não-governamentais, jornalistas, advogados e activistas foram alvo de diversos processos judiciais e de detenções.

2021 começou com a prisão de Alexei Navalny, principal adversário político de Putin, após regressar a Moscovo vindo da Alemanha, onde foi tratado depois de ter sido envenenado quando regressava de uma deslocação à Sibéria, o que atribuiu ao Kremlin. O Fundo de Combate à Corrupção (FBK), movimento que criou, foi depois detido por “extremismo”.

“Condenados, sempre houve. Não devemos cometer crimes”, disse Putin, que na altura voltou a negar qualquer envolvimento do Kremlin no envenenamento de Navalny, pedindo para que se “vire a página” em relação ao assunto, uma vez que “não há provas”.

“Enviamos vários pedidos do Ministério Público russo para se entregar provas para confirmar que houve, de facto, envenenamento. E nada. Não há uma única prova”, disse Putin.

O Presidente russo acrescentou que Moscovo também propôs o envio de especialistas para colaborar no esclarecimento do caso, que levou à imposição de sanções ocidentais. “Eu próprio propus ao Presidente da França [Emmanuel Macron] e à [antiga] chanceler da Alemanha [Ângela Merkel] que deixassem os nossos especialistas irem colher amostras”, disse, salientando que, dessa forma, Moscovo teria base legal para abrir um processo criminal ao “suposto” envenenamento. “E nada. Zero”, insistiu.

Putin foi também questionado sobre os assassínios do opositor Boris Nemtsov (2015) e da jornalista Anna Politkovskaya (2006).

“Fiz tudo para esclarecer esses assassínios. As respectivas ordens foram dadas. Várias pessoas foram presas por esses crimes”, respondeu Putin, reconhecendo, no entanto, existirem opiniões de que as pessoas que cumprem penas “não são os mandantes” desses crimes. “A investigação ainda não sabe. Tudo foi feito para localizar os responsáveis”, afirmou.

Ao terminar a conferência de imprensa anual – que instituiu desde 2001 – Putin agradeceu a Ded Moroz (o avô Gelo, o “Pai Natal” russo), por o ter ajudado a tornar-se Presidente, pedindo-lhe para realizar os planos da Rússia.

O Ded Moroz é uma figura barbuda, muito parecida com o Pai Natal, que distribui presentes às crianças na véspera de Ano Novo, sendo auxiliado pela sua neta, Snégourotchka, a Donzela da Neve.

Entretanto, hoje, se alguém for à Rússia e para se deslocar perguntar a um taxista: “Está livre?”, a resposta passou a ser só uma: “Sou russo”…

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